sexta-feira, 24 de junho de 2011

Obesidade e puberdade

Todos nós já ouvimos falar, pelo menos uma vez, que os norte-americanos sofrem com a obesidade. A partir daí, também, que os cientistas passaram a se preocupar com (as) adolescentes norte-americanas, principalmente, que entravam na puberdade mais cedo que o normal – ou pelo menos, fora dos padrões. A neurocientista Carol Elias aproveitou a oportunidade, para contribuir no desvendar de um dos fenômenos bioquímicos, que vem alarmando os médicos dos EUA: a antecipação da puberdade feminina.

Iniciando seus estudos no Brasil, financiada pela FAPESP, Capes e CNPq, Carol e sua equipe, depois de quase uma década, identificaram a região do cérebro em que o hormônio leptina, atua despertando o amadurecimento sexual. A neurocientista termina sua pesquisa nos Estados Unidos com o apoio dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) e, com o nome da região que procuravam: o núcleo pré-mamilar ventral.

Explica Carol, atualmente pesquisadora da Universidade do Texas e ex-professora da Universidade de São Paulo (USP), que “Há um mecanismo bioquímico delicado que informa ao cérebro que o organismo está pronto para reproduzir”. E o responsável por dar esse aviso ao cérebro é a leptina – um hormônio secretado pelas células da gordura e mais conhecido por despertar a sensação de saciedade e de reduzir a fome.

As pesquisas que tinham sido feitas sobre a leptina, apresentavam resultados de que esse hormônio iniciava uma cadeia de reações químicas, ao qual levavam ao desenvolvimento dos órgãos sexuais e também a fertilidade. Sabe-se que camundongos e seres humanos que não produzem a leptina, não entram na puberdade – sendo essa, o período de transformações fisiológicas que preparam o corpo para procriar.

Carol passou um período na Universidade de Harvard colaborando, também, com a identificação das regiões cerebrais, que produzem os receptores da leptina – proteína à qual o hormônio de mesmo nome se liga estimulando o funcionamento das células cerebrais (neurônios). Uma das regiões que expressam esses receptores e que chamou a atenção, é o núcleo pré-mamilar ventral, localizado entre as regiões do hipotálamo.

Newton Canteiras, pesquisador da USP, já havia demonstrado como funciona esse mecanismo. Esse grupo de células se conecta a regiões cerebrais que produzem o hormônio liberador de gonadotrofinas, o responsável por estimular a secreção de outros hormônios sexuais.

Carol e mais três pesquisadores brasileiros, foram convidados para integrar a equipe de Joel Elmquist no Texas. Juntos, desenvolveram em um laboratório um camundongo geneticamente modificado, para em certas condições, produzir o receptor de leptina apenas no núcleo pré-mamilar ventral. O trabalho foi positivo e os pesquisadores publicaram um artigo¹, em dezembro de 2010 na revista Jurnal of Clinical Investigtion, com os resultados obtidos.

Carol explica que, as fêmeas de camundongo inférteis entraram na puberdade e se tornaram capazes de procriar, quando estimulado a produção do receptor de letptina, exclusivamente no núcleo pré-mamilar ventral: “As células desse núcleo passaram a reconhecer a presença da leptina, induzindo o amadurecimento sexual”.

A possível explicação para o fenômeno, é que os neurônios do núcleo pré-mamilar ventral, estimulam as células produtoras do hormônio liberador de gonadotrofinas. Essa cadeia de reações bioquímicas, que por razões ainda desconhecidas, desperta a puberdade apenas nas fêmeas, ajudou a compreender o porque, essa proporção cada vez maior de meninas norte-americanas entre 7 e 8 anos de idade já estão entrando na puberdade. Assim mostrou um estudo² publicado em setembro de 2010 na Pediatrics.

Para Carol, “é possível que as taxas mais elevadas de leptina em crianças obesas estejam estimulando regiões cerebrais que normalmente só seriam ativadas mais tarde” e “agora que identificamos o grupo de células responsáveis por mediar a ação da leptina no início da puberdade teremos condições de desvendar os mecanismos celulares, genéticos e bioquímicos envolvidos nesta função”.

¹ link do artigo: http://www.jci.org/articles/view/45106 - encontra-se em inglês.

² link do estudo: http://pediatrics.aappublications.org/content/126/3/e583.abstract - encontra-se em inglês e apenas o abstract.

Texto criado a partir da matéria, encontrada no site: http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=6941&bd=2&pg=1&lg=



Um comentário:

Fernanda Velasco disse...

Já tinha escutado falar sobre esse assunto, mas nunca ninguém soube me explicar. Agora lendo um pouco mais a fundo, da para entender e perceber que faz sentido.